A COBRA VOADORA
Era uma vez uma cobra rastejante que queria voar. A pobre cobra desde o momento em que tomou consciência da existência de seres voadores não suportava mais a idéia de ser um animal rastejante. A consciência do seus limites a tornou um animal infeliz, chorava pelos cantos das arvores e seu choro já contaminava todos os outros bichos tamanha era a tristeza que passava. Assim um dia uma cobra coral quando soube da história da companheira de infortúnio correu para consolá-la e se colocou à disposição para mostrar-lhe que sua natureza rastejante não era motivo para ser infeliz. Tentou mostrar-lhe como podia ser interessante ser o motivo do medo alheio. Mas, não conseguiu convencer a pobre da jararaca. Havia se esquecido de contar que aquela pobre cobra infeliz que queria voar era uma cobra jararaca. A cobra coral já cansada de mostrar os aspectos positivos de ser um réptil rastejante, resolveu abandonar a empreitada porque os argumentos da jararaca já começavam a contaminá-la e ela com medo de se tornar também uma cobra infeliz, cascou no serrado, tiririca pelo fracasso da ação. Resolveu se afastar o máximo que podia daquela região para não escutar os lamentos intermináveis daquela infeliz e insatisfeita.
Um dia a cobra infeliz teve uma infeliz idéia. Rastejou até o alto de um abismo, reparou numa águia que plainava por sua cabeça e se lançou no ar. Sentiu o vazio do espaço, o vento frio que invadia suas narinas e a estranha sensação do mergulho no espaço. Quase em vôo, foi surpreendida por um aperto no meio do corpo. Enquanto se contorcia de dor pôde ainda perceber que já não navegava no espaço vazio, mas que se encontrava aprisionada no bico de uma águia cujo olhar brilhava em êxtase. E aí compreendeu que a inveja da natureza alheia foi armadilha do desejo.
O infeliz não precisa de argumentos para deixar de ser infeliz. Ele procura argumentos para ser infeliz, para rejeitar a sua condição básica, a sua natureza. A felicidade do infeliz é ser infeliz.
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