quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

LAPIDAR

Diamante Wittelsbach

A vida pela lente da realidade pode parecer madrasta. E a dinâmica de envelhecimento, provavelmente, seja a mais drástica punição. Nascer, envelhecer e morrer.

Envelhecer é como cristalizar o bom que conquistamos e o mal que incorporamos. É como um processo de Lapidação. Se for bem realizado o belo é realçado, se mal feito, o trabalho equivocado é realçado.

Muitos, em geral, se dedicam na vida às tarefas que definiram e escolheram como “importantes” e deixam de dar importância ao que a vida sinaliza como primordial.

Eu considero o aprimoramento como pré-condição básica de qualquer processo de maturação bem realizado. Não dá para, simplesmente, relevar como coisa insignificante. E esse resultado aparece na dinâmica de envelhecimento.

Muitos narcísicos buscam desesperadamente resgatar a beleza da juventude e se esquecem da beleza da jovialidade. Ficam assim, com a aparência de jovens deformados, aparentemente belos já que o comportamento de jovem envelhecido se mostra um biótipo estérico (tipo de arranjo do átomos no espaço), em desarranjo, em má formação.

Na velhice as mazelas são realçadas, as neuras afloram mais caracterizadas e definidas e as defesas se multiplicam como que para proteger o individuo do sofrimento. Mas este se torna implacável. Dores surgem de todos os lados e de todas as formas possíveis. O que antes era possível esconder se mostra descaradamente explícito. É este resultado que eu chamo de vida madrastra, punitiva, implacável na cobrança. Não há escape, nem o passamento resolve, já que a memória atômica está registrada na matéria, e ela não se desintegra neste estágio.
Não há juventude que resiste ao Tempo, com exceção da juventude e do frescor do Espírito. Com o aprimoramento mantemos a jovialidade, uma jovialidade inimaginavelmente mais leve, flexível e fresca do que a dos jovens, que em geral estão encantados e obnubilados pela superficialidade dos reflexos.

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