segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

NASRUDIN 2

 
Nasrudin tinha uma lado asiático, um tanto indiano, e um bocado oriental,
parecença com conteúdos e posturas, zens e sufis misturadas com a inteligência confuciana.
Sutís realidades.

O REI FALOU COMIGO


Nasrudin retornou da capital imperial, e os cidadãos do vilarejo juntaram-se a sua volta para ouvir o que tinha a dizer. "Serei breve", disse Nasrudin, "e concentrarei minhas observações sobre o ensejo na simples afirmação de que o meu maior momento foi quando o rei falou comigo." Estupefatos diante de tal prodígio e inebriados pelos reflexos de tamanha glória, a maior parte dos cidadãos debandou e pôs-se a caminho, discutindo aquele maravilhoso acontecimento.
O menos sofisticado de todos aqueles camponeses permaneceu por ali, e perguntou: "O que disse Sua Majestade?" "Estava do lado de fora do palácio, quando ele apareceu e falou comigo, em alto e bom som, para quem quisesse ouvir: 'Saia do meu caminho!" O simplório camponês deu-se por satisfeito. Agora, tinha escutado, com seus próprios ouvidos, as palavras que, de fato, foram proferidas por um rei.

VACA COM BEZERRO
O Mullá foi ao mercado vender sua vaca, mas ninguém queria comprá-la. Apareceu um vizinho e disse: "Deixe-me tentar, você está fazendo tudo errado". "Tenho que aprender essa arte", pensou o Muilá. "Vaca de primeira classe, com um bezerro para daqui a cinco meses!", berrou o vizinho. O animal foi vendido imediatamente. Ao chegar em casa, Nasrudin deu de cara com um jovem rapaz, que se apresentava para sondar acerca das possibilidades de casar-se com sua filha. Tudo o que o Mullá fez foi testar sua habilidade recém adquirida... Ficou assombrado com a velocidade com que o pretendente abandonou a casa.


UM MOMENTO NO TEMPO

"O que é Destino?", foi a pergunta feita a Nasrudin por um estudioso, "Uma sucessão interminável de eventos entrelaçados, um influenciando o outro." "Não é uma resposta muito satisfatória. Eu acredito em causa e efeito." "Muito bem. Veja só aquilo", respondeu Nasrudin, apontando um cortejo que passava justo por aquela rua. "Aquele homem está sendo levado à forca. Por que será? Por que alguém lhe deu uma moeda de prata que lhe permitiu comprar a faca com a qual cometeu um assassinato? Ou por que alguém testemunhou o crime? Ou foi por que ninguém o impediu de cometê-lo?"

OURO, O MANTO E O CAVALO

"Não posso ter um emprego", disse Nasrudin, "porque já estou a serviço do Todo-Poderoso". "Nesse caso", disse sua mulher, "peça-lhe um salário, pois todo empregador tem que pagar”. Bastante razoável, pensou Nasrudin. "Até agora não fui pago, pelo simples fato de nunca ter pedido nada", disse em voz alta. "Então é bom você ir e pedir-lhe." Nasrudin foi ao jardim, ajoelhou-se e clamou: "Ó  Allah, mandai-me cem moedas de ouro, pois tudo aquilo que já fiz em vosso serviço vale ao menos essa quantia como paga."
Seu vizinho, um agiota, pensou em fazer uma brincadeira. Pegou uma sacola com cem moedas de ouro e jogou-a janela abaixo. Sem perder a altivez, Nasrudin levantou-se e levou o dinheiro até sua mulher. "Sou um dos santos", disse a ela. "Aqui estão meus atrasados," Ela ficou muito impressionada. Não demorou muito para que o vizinho, desconfiado daquela sucessão de homens fazendo entregas de comida, roupas e mobília na casa de Nasrudin, fosse cobrar seu dinheiro de volta. "Você me ouviu clamando pelo dinheiro e agora finge que ele é seu", disse Nasrudin, "Este dinheiro nunca será seu." O vizinho disse que o levaria a um tribunal de justiça sumária. "Não posso ir deste jeito", disse Nasrudin. "Não tenho roupas adequadas, nem sequer um cavalo. Se comparecermos juntos ao tribunal, o juiz, diante da minha aparência maltrapilha, julgará preconceituosa mente a seu favor." O vizinho despiu seu próprio manto e ofereceu-o a Nasrudin, Ofereceu-lhe ainda seu próprio cavalo e foram ter com o cádi (juiz). Primeiramente foi ouvido o reclamante. "Qual é sua defesa?", perguntou a Nasrudin o nobre magistrado, "Que o meu vizinho é louco." "De que evidências dispõe, Mullá?" "Que evidência melhor que aquela proferida de sua própria boca? Ele pensa que tudo lhe pertence. Se perguntar-lhe sobre meu cavalo, ou até mesmo sobre meu manto, vai dizer que são dele. Imagine só o que dirá com respeito a meu ouro.” "Mas é tudo meu!", berrou o vizinho. O caso foi encerrado.

POR QUE ESTAMOS AQUI


Certa noite, Mullá Nasrudin caminhava por uma estrada deserta, quando avistou um tropel de cavaleiros vindo em sua direção. Sua imaginação começou a funcionar; viu-se capturado e vendido como escravo, ou forçado a fazer parte do exército. Nasrudin saiu correndo, escalou o muro de um cemitério e deitou-se numa cova aberta. Perplexos diante daquele estranho comportamento, os homens - viajantes honestos - foram atrás dele. Encontraram-no estirado, tenso e tremulo. "O que está fazendo nesta cova? Vimos você fugindo. Podemos ajudá-lo?" "Só porque podem fazer uma pergunta, não significa que se possa respondê-la diretamente", disse o Mullá, que agora se dava conta do ocorrido. “Tudo depende do seu ponto de vista”. Entretanto, devem saber que - eu estou aqui or causa de vocês, e vocês estão aqui por minha causa."

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