domingo, 14 de fevereiro de 2010

NASRUDIM



Nesses dias de CARNAL val, vou brindá-los com pequenas histórias, as que se seguem são de NASRUDIN


O SANTUÁRIO

O pai do Mullá Nasrudin era o respeitadíssimo guardião de um santuário, abrigo do túmulo de um grande mestre, e local de peregrinação que atraía tanto a crédulos como a buscadores da Verdade. Era de se esperar, pelo curso natural dos acontecimentos, que Nasrudin viesse a herdar aquela posição. Mas logo após seu décimo quinto aniversário, quando passou a ser considerado um homem, decidiu seguir a velha máxima: "Busca o conhecimento, ainda que seja na China". "Não tentarei te dissuadir, meu filho", disse o pai. Então, Nasrudin selou um jumento e pôs-se a caminho. Visitou as terras do Egito e da Babilónia, vagou pelo Deserto da Arábia, foi para o norte em direção a Iconium, Bokhara, Samarkanda e às montanhas do Hindu-Kush, associando-se a dervixes e sempre avançando rumo ao Extremo Oriente. Após um desvio peloTibete, lá ia Nasrudin atravessando com grande esforço as cordilheiras de Kashmir, quando sucedeu que seu jumento, sem conseguir superar a atmosfera rarefeita e as privações, desfaleceu e morreu. Uma tristeza profunda abateu-se sobre Nasrudin,pois o jumento havia sido o único companheiro de todas as jornadas, que já duravam 12 anos ou mais. Com o coração partido, enterrou seu amigo e ergueu sobre a sepultura um singelo montículo de terra. Ali permaneceu em meditação silenciosa; sobre sua cabeça, projetavam-se imponentes montanhas, lá embaixo, impetuosas torrentes. Os viajantes da rota das montanhas entre a índia e a Ásia Central, China e os santuários do Turquestão não tardaram em perceber aquela figura solitária, ora chorando a perda infligida, ora de olhos pregados nos vales de Kashmir. "Sem dúvida deve ser o túmulo de um homem santo", disseram uns aos outros, “e não um qualquer, de poucos dons, haja visto como seu discípulo lamenta sua morte. Ora, está por aqui há alguns meses e seu pesar não dá sinais de esmorecer”. Não tardou para que passasse um homem rico, que ordenou fosse ali construído, em sinal de devoção, um imponente santuário. Outros peregrinos aplainaram os terrenos montanhosos, à volta nos quais plantaram sementes, cujos frutos destinavam-se à manutenção do santuário. A fama do Dervixe em Luto Silencioso propagou-se de tal maneira, que acabou chegando aos ouvidos do pai de Nasrudin, que, imediatamente, veio em peregrinação ao local santificado. Assim que viu Nasrudin, perguntou-lhe o que havia sucedido. Nasrudin contou-lhe tudo. Perplexo, o velho levantou as mãos para o céu: "Saiba, ó filho meu", exclamou, "que o santuário no qual cresceste e que abandonaste foi erguido exatamente da mesma maneira, através de uma cadeia similar de eventos, quando meu próprio jumento morreu, uns 30 anos atrás."


SE DEUS QUISER
Uma noite, Nasrudin comentou com a mulher:
-Se amanhã chover, vou cortar lenha; se fizer tempo bom, vou arar a terra. Sua mulher advertiu-o: Diga: se Deus quiser! Nasrudin, diga: se Deus quiser!
Ele se irritou: “Por que vou ter que dizer se Deus quiser’”?
Com toda certeza farei uma coisa ou outra.
No dia seguinte, o tempo estava bom. Nasrudin saiu para arar a terra, mas quando estava prestes a pegar no arado, começou a chover. Pôs-se então a caminho do bosque para que aí cortasse lenha, mas não tardou em cruzar com um homem a cavalo, que lhe perguntou: Como se faz para chegar a tal povoado?
-Não pergunte a mim, não sei! respondeu Nasrudin, e tratou de seguir seu caminho. o homem ameaçou-o com um chicote e ordenou: - Pare! Vai me ievar ao tal povoado.
Nasrudin não teve outro remédio a não ser trocar de rumo. Acompanhou o homem ao povoado que, por sinal, era muito longe dali. Só pôde voltar para casa já bem tarde da noite. Bateu à porta, e sua mulher, lá de dentro, perguntou cautelosa:
-Quem é?
- Nasrudín, se Deus quiser!

A FELICIDADE NÃO ESTÁ ONDE SE PROCURA
Nasrudin encontrou um homem desconsolado sentado à beira do caminho e perguntou-lhe os motivos de tanta aflição. "Não há nada na vida que interesse, irmão", disse o homem. "Tenho dinheiro suficiente para não precisar trabalhar e estou nesta viagem só para procurar algo mais interessante do que a vida que levo em casa. Até agora, eu nada encontrei." Sem mais palavra, Nasrudin arrancou-lhe a mochila e fugiu com ela estrada abaixo, correndo feito uma lebre. Como conhecia a região, foi capaz de tomar uma boa distância. A estrada fazia uma curva e Nasrudin foi cortando caminho por vários atalhos, até que retornou à mesma estrada, muito à frente do homem que havia roubado. Colocou a mochila bem do lado da estrada e escondeu se à espera do outro. Logo apareceu o miserável viajante, caminhando pela estrada tortuosa, mais infeliz do que nunca pela perda da mochila. Assim que viu sua propriedade bem ali, à mão, correu para pegá-la, dando gritos de alegria. "Essa é uma maneira de se produzir felicidade", disse Nasrudin.

FISGADO


O rei enviou uma delegação em missão secreta às zonas rurais, para que se encontrasse um homem modesto que pudesse ser designado para juiz. Nasrudin acabou sabendo disso. Quando a delegação, fazendo-se passar por um grupo de viajantes, visitou Nasrudin, verificou que ele tinha uma rede de pesca enrolada nos ombros. Um deles perguntou: "Diga-nos, por favor, por que usa esta rede?. "Simplesmente para recordar-me da minha origem humilde, pois um dia já fui pescador." Pela força deste nobre sentimento, Nasrudin foi nomeado juiz. Um dia, ao visitar sua corte, um dos oficiais que estivera naquela delegação perguntou-lhe: "O que aconteceu a sua rede, Nasrudin?. "Com toda certeza", respondeu o Mullá-Juiz, "não há necessidade de uma rede quando já se fisgou o peixe”.

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