sábado, 27 de fevereiro de 2010

NASRUDIN 3

  
Porque hoje é sábado de luz, aqui nos trópicos, e de frio e neve no Norte, mais algumas histórias de Nasrudin:

O ELEMENTO INESPERADO

Já altas horas da madrugada, dois bêbados começaram uma discussão infernal bem debaixo da janela de Nasrudin, que prontamente acordou, enrolou-se no seu único cobertor e saiu correndo para tentar acabar com a gritaria. Mal começara a tentativa de apaziguar os ânimos, um deles arrancou-lhe o cobertor
e os dois saíram correndo, "Sobre o que discutiam?", perguntou sua mulher assim que Nasrudin voltou da rua, "Devia ser a respeito do cobertor. Assim que o conseguiram, a briga terminou."

O CONTRABANDISTA

Volta e meia, Nasrudin atravessava a fronteira entre a Pérsia e a Grécia montado no lombo de um burro. Toda vez, passava com dois cestos cheios de palha e voltava sem eles, arrastando-se a pé. Toda vez, a guarda procurava por contrabando. Nunca o encontrou.
"O que é que você transporta, Nasrudin?"
"Sou contrabandista."
Anos mais tarde, com uma aparência cada vez mais próspera, Nasrudin mudou-se para o Egito. Lá encontrou um daqueles guardas de fronteira,
"Diga-me, Mullá, agora que você está fora da jurisdição grega e persa, instalado por aqui nesta vida boa - o que é que você contrabandeava, que nunca conseguimos pegar?"
"Burros."




PICADA DE COBRA

Perguntaram a Nasrudin: "Para que esse antídoto contra picada de cobra, Mullá?"
"É que peguei um pedaço de pau e achei que era uma cobra", respondeu Nasrudin.
"Mas um pedaço de pau não o picaria!"
"E a cobra de verdade que eu peguei para bater no pedaço de pau?"

NASRUDIN POSTOU-SE NA PRAÇA DO MERCADO
 E DIRIGIU-SE À MULTIDÃO

"Ó povo deste lugar! Querem conhecimento sem dificuldade, verdade sem falsidade, realização sem esforço, progresso sem sacrifício?"
Logo juntou-se um grande número de pessoas, com todo mundo gritando:
"Queremos, queremos!"
"Era só para saber", disse o Mullá. "Podem confiar em mim, contarei a vocês tudo a respeito, caso algum dia descubra algo assim."

O REMÉDIO

Um homem herdou uma grande fortuna, mas, em pouco tempo, dilapidou seu patrimônio de uma tal maneira, que não lhe restou um centavo sequer. Sem saber o que fazer, foi queixar-se a Nasrudin.
"Multa, estou numa situação terrível", disse. "Estou a ponto de ter que pedir esmolas para sobreviver. Que faço? Qual é o remédio?"
Nasrudin refletiu por um instante e respondeu:
"Não se preocupe, suas aflições terminarão em breve".
O perdulário entusiasmou-se:
"Como? Acaso voltarei a ser rico?"
"Não, não," respondeu o Mullá, "você se acostumará a ser pobre!"

O VALOR DE UM DESEJO

Nasrudin tinha um búfalo, cujos chifres eram bem afastados um do outro. Sempre imaginava que, caso conseguisse instalar-se entre eles, seria exatamente como estar sentado num trono. Um dia, o animal sentou-se bem próximo, e a coisa mais simples do mundo seria acomodar-se entre os chifres. Nasrudin não pôde resistir à tentação. O búfalo, quase de imediato, levantou-se e jogou-o longe.
Sua mulher, ao encontrá-lo desmaiado no chão, começou a chorar.
"Não chore", disse Nasrudin assim que voltou a si. "Tive meu sofrimento, mas ao menos realizei também o meu desejo."

Nenhum comentário:

Postar um comentário